quarta-feira, 4 de maio de 2016

Poesia...

Cemitério pernambucano
(Nossa Senhora da Luz)

do poeta brasileiro Joao Cabral de Melo Neto

Nesta terra ninguém jaz,
pois também nao jaz um rio
noutro rio, nem o mar
é cemitério de rios.

Nenhum dos mortos daqui
vem vestido de caixão.
Por tanto, eles não se enterram,
são derramados no chão,

Vêm abertas ao sol e à chuva.
Trazem suas próprias moscas.
O chão lhes vai como luva.

Mortos ao ar-livre, que eram,
hoje a terra-livre estão.
São tão da terra que à terra
nem sente sua intrusão.

Do livro Morte e vida Severina. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.

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