Cemitério pernambucano
(Nossa Senhora da Luz)
do poeta brasileiro Joao Cabral de Melo Neto
Nesta terra ninguém jaz,
pois também nao jaz um rio
noutro rio, nem o mar
é cemitério de rios.
Nenhum dos mortos daqui
vem vestido de caixão.
Por tanto, eles não se enterram,
são derramados no chão,
Vêm abertas ao sol e à chuva.
Trazem suas próprias moscas.
O chão lhes vai como luva.
Mortos ao ar-livre, que eram,
hoje a terra-livre estão.
São tão da terra que à terra
nem sente sua intrusão.
Do livro Morte e vida Severina. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.
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